* Texto publicado originalmente em setembro de 2016 O ano era 1956. Em uma negociação impulsionada por Waldemar de Brito, um garoto de ape...
* Texto publicado originalmente em setembro de 2016
O ano era 1956. Em uma negociação impulsionada por Waldemar de Brito, um garoto de apenas 15 anos de idade chegava ao Santos depois de chamar atenção para o seu futebol no Bauru. O que o clube da baixada não contava é que esse garoto viria a ser o maior craque de sua história. E que não se limitaria a esse enorme feito. Mas nas entrelinhas dos quatro tentos anotados em seu primeiro treino já estava escrito: aquele menino de poucas palavras, que chegou tímido ao time da Vila Belmiro, mas que não economizava sorrisos, se tornaria, mais para frente, protagonista da mais extraordinária narrativa do futebol mundial. Ela começou em 7 de setembro daquele ano, quando Pelé marcou o primeiro de seus 1282 gols.
A fortíssima equipe do Santos subiu a Serra do Mar no Dia Independência do Brasil de exatas seis décadas atrás. Os jogadores não estavam de folga e aproveitariam o feriado em outra cidade. A viagem ao ABC Paulista se dava por conta do compromisso contra o Corinthians de Santo André, o qual valia o troféu Independência, ofertado pela prefeitura local. Era a estreia oficial do garoto franzino que já havia aprontado na primeira oportunidade que teve a bola nos pés e a camisa alvinegra no corpo. Embora o Santos tivesse um excelente elenco, a fase não era boa. O Peixe vinha de uma sequência de jogos muito ruins e de exibições um tanto fracas. Precisava ser vencedor da partida contra os andreenses para retomar a confiança que se esvaía. E foi assim que saiu do estádio Américo Guazelli naquele sete de setembro.
Pelé começou o jogo no banco. E lá ficou até o segundo tempo. Na altura em que o mineiro de Três Corações entrou na partida, o placar já era dos mais favoráveis para o time visitante. O Santos fazia 5 a 0. Com a missão de tentar evitar um estrago ainda maior, o técnico do Corinthians de Santo André resolveu colocar Zaluar, o goleiro reserva, para jogar. Assim, de um lado entrava em campo o garoto de 15 anos, louco para se provar. Do outro, o arqueiro que tinha em suas costas uma responsabilidade imensurável. Aos 36 minutos da segunda etapa, o adolescente dominou a bola no meio-campo, arrancou, driblou dois marcadores, invadiu a área e tocou a bola por baixo das pernas da primeira de suas tantas vítimas: Zaluar. Gol de Pelé.
Nenhum goleiro gosta de ser vazado, mas o reserva certamente deve ter aberto um sorriso de orelha à orelha ao se recordar desse momento mais tarde. Era o prenúncio da mais sublime história do futebol mundial. Foi o primeiro tento anotado por aquele que se tornaria o maior artilheiro de todos os tempos. Depois do gol na vitória de 7 a 1 sobre a equipe do ABC Paulista, o número da exponenciação das alegrias se tornou incrivelmente maior. Durante os 18 anos em que Pelé esteve no Santos, o alvinegro praiano não parou de conquistar títulos. Foram, ao todo, 26 taças. Athiê Coury já havia sido alertado por Waldemar de Brito quando este articulou a transferência mais certeira de todos os tempos: “este é o garoto que vai ser o maior jogador do mundo”. E foi.
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